lunes, 14 de septiembre de 2020

"Não tenhas nada nas mãos…", Ricardo Reis (Fernando Pessoa).

 Não tenhas nada nas mãos

Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem

Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos

Nada te cairá.

Que trono te querem dar

Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem

Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem

Da estatura da sombra

Que serás quando fores

Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,

Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica

E sê rei de ti próprio.



No tengas nada en las manos

ni una memoria en el alma,


que cuando un día en tus manos

pongan el óbolo último,


cuando las manos te abran

nada te caiga de ellas.


¿Qué trono te quieren dar

que Atropos no te quite?


¿Qué laurel que no se mustie

en los arbitrios de Minos?


¿Qué horas que no te conviertan

en la estatura de sombra


que serás cuando de noche,

estés al fin del camino?


Coge las flores, mas déjalas

caer, apenas miradas.


Al sol siéntate. Y abdica

para ser rey de ti mismo.